22/11/2018

Poemeto da construção familiar

Vais construir casa e lar
com uma família dentro?
Dentro e fora, és o centro
da atenção que lhe* vão dar.

Hás de te preocupar
com tudo que lhe* ocorrer,
inclusive responder
como único responsável
por um erro condenável
que outro Membro** cometeu.

Sem nenhum pecado teu,
serás ao máximo imputável.

*lhe refere-se a ela, à família.
**Membro – pessoa que integra o grupo familiar.
Poemeto de antevisão com 3 estrofes: quarteto, sextilha e dístico, funcionando como parágrafos; verso em redondilha maior (7 sílabas), rimas intercaladas abba-accdde-ed.

16/11/2018

Poemeto de gratidão às cegas

A quem faz o bem a mim —
sem saber que está fazendo,
sempre estou agradecendo
por começo, meio e fim.

E a quem apaga o estopim
que me possa incendiar,
quero, ao meu modo, rezar
esta espontânea oração:

“Ganhe paz, amor, perdão
por conta do que me faz,
livrando-se do Sagaz
e da Lei de Talião”.

02/11/2018

Poema do Dia de Finados 2018

"Campo-santo" (Cemitério)

      Dois de Novembro
Chega o Dia dos Finados,
de visita ao cemitério:
o silêncio é um mistério
pela voz dos enterrados.
São muitos antepassados
que o sal da terra domina.
"O cemitério é salina
que não conserva a matéria
porque se faz carne etérea."
E a Vida nunca termina...

      Através da vidraça*
Quem contempla diariamente
a imagem de um cemitério
sente um ar telúrico e etéreo
que sopra invisivelmente.
Percebe tal como sente
um anjo que abre "a cortina
da atmosfera divina".
Olha por trás da vidraça,
fica em "estado de graça".
E a Vida nunca termina...


      Encarnação, ressureição
O espírito desencarna,
mas a carne ressuscita.
Nessa alternância infinita,
a Vida segue ou desarna;
“Ressuscita ou reencarna” — 
tudo é verbo que germina,
forma verbal que se afina
e, por essa afinidade,
suscita continuidade.
E a Vida nunca termina...

01/11/2018

Poemeto do filho nubente, mãe pesarosa

Notícia pior do que uma tempestade,/
a mãe pode ter no "inverno* da vida",/
se um filho "virar-se de cabeça erguida”/
e assumir noivado sem capacidade —/
sem ter-se formado, sem estabilidade/
com que dê à noiva morada e sustento.

A mãe perde o sono, caindo em lamento,/
ao ver o seu filho sem dote e casado —/
de um jeito que pode deixá-lo "enterrado/
na cova dos prantos e do sofrimento”,/ 
em vez de esperar um feliz casamento/
com tempo de sobra, seguro e pensado.

* Inverno: estação do plantio, em sentido figurado.
O texto acima é um poemeto aforístico em 2 sextilhas: verso hendecassílabo (11 sílabas métricas) e rimas intercaladas (abbaac-cddeed); mas foi reorganizado, partindo cada vero ao meio para facilitar a compreensão na leitura.